segunda-feira, 5 de abril de 2010

Milton Gonçalves

Milton Gonçalves (Monte Santo MG 1934). Ator. Integrante do Teatro de Arena de São Paulo, participa da definição das bases da companhia, tanto no que diz respeito à linha interpretativa quanto na fundação do Seminário de Dramaturgia, atuando em seus mais importantes espetáculos. Hoje mais assíduo no cinema e na televisão, é freqüentemente convidado para debates, demonstrando preocupação com questões políticas e sociais, do teatro e do país.

Depois de iniciar sua carreira no teatro amador e no teatro infantil, ingressa no elenco do Teatro de Arena, estreando em Ratos e Homens, de Steinbeck, com direção de Augusto Boal, em 1956. A vivacidade cênica e o talento revelados desde o início, a identificação com a proposta popular do grupo e seu interesse pelos métodos de preparo de ator desenvolvidos por Boal, contribuem para garantir-lhe um lugar de destaque na equipe, na qual ele exerce variadas funções. É, também, um assíduo freqüentador dos cursos e laboratórios promovidos pelo Arena, e membro fundador do seu Seminário de Dramaturgia. Entre os seus desempenhos no Arena destacam-se: Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, com direção de José Renato, 1958, na criação da personagem Bráulio; e - sob a direção de Augusto Boal - Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho, 1959; Revolução na América do Sul, de Augusto Boal, 1960; Pintado de Alegre, de Flávio Migliaccio, e O Testamento do Cangaceiro, de Chico de Assis, 1961; A Mandrágora, de Maquiavel, no papel de Ligúrio, 1962; Arena Conta Zumbi, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, 1965.

No Teatro Experimental do Negro de São Paulo, faz uma rápida passagem como autor de Sucata. No Teatro Nacional de Comédia, TNC, faz As Aventuras de Ripió Lacraia, de Chico de Assis, 1963. No Teatro Jovem, participa de América Injusta, de Martin B. Duberman, com direção de Nelson Xavier, 1966. Faz parte do elenco de Barrela, de Plínio Marcos, dirigido por Luiz Carlos Maciel, cuja montagem é proibida pela censura, em 1968. No mesmo ano, participa da criação de um outro espetáculo sobre um texto do mesmo autor, Jornada de Um Imbecil Até o Entendimento, no Grupo Opinião.

Atua, na montagem ousada de Paulo Afonso Grisolli, no musical Alice no País Divino Maravilhoso, de Sidney Miller, Paulo Afonso Grisolli, Tite de Lemos, Luiz Carlos Maciel e Marcos Flaksman,1970. Integra o elenco de A Farsa da Boa Preguiça, de Ariano Suassuna, dirigido por Luiz Mendonça, numa produção do Grupo Chegança, 1975.

Em 1980 realiza uma das suas interpretações mais comoventes, como o cantor de Os Órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes, encenado por Sergio Britto, no Teatro dos Quatro; desempenho que contribui para que lhe seja outorgado, em 1981, o Prêmio Estácio de Sá, pelos serviços prestados ao teatro carioca.

Na década de 80, quando sua presença no palco torna-se mais esporádica, participa do musical Vargas, de Dias Gomes, encenação de Flávio Rangel, 1983, e de Orfeu da Conceição, de Vinícius de Morais, em 1989.

Amplia cada vez mais sua atuação no cinema, veículo no qual tem desempenhos destacados em filmes como em Macunaíma, 1969; Eles Não Usam Black-Tie, 1981; Um Trem para as Estrelas, 1987; e trabalha repetidamente também em co-produções internacionais, como O Beijo da Mulher Aranha, 1985; e Luar Sobre Parador, 1988.

Sua presença na televisão é também intensa, em novelas de sucesso da TV Globo, onde também trabalha como diretor de novelas - Escrava Isaura e Irmãos Coragem, entre outras - miniséries e programas humorísticos. Faz, sem maior repercussão, algumas experiências como diretor de teatro, assinando montagens de O Noviço, de Martins Pena; Arena Conta Zumbi, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri; e As Três Moças do Sabonete, de Herbert Daniel. Durante muitos anos exerce, paralelamente às suas atividades como ator, a profissão de radialista; e é também formado em jornalismo, ofício que pratica esporadicamente.

Na década de 90, atua em Master Harold...e os Meninos, de Athol Fugard, 1990, e interpreta Lima Barreto em Lima Barreto ao Terceiro Dia, de Luís Alberto de Abreu, 1995.

O crítico Yan Michalski, na obra inédita Pequena Enciclopédia da Teatro Brasileiro, define o ator: "Intérprete muito espôntaneo, dotado de forte simpatia em cena e de voz envolvente, ele canaliza suas capacidades inatas para composições intelectualmente bem amparadas e detalhadas dos seus papéis. Nos seus mais de 30 anos de carreira, ele é um dos atores negros mais bem sucedidos nos palcos (e nas telas) do Brasil, tanto em papéis em que a sua cor é uma exigência do 'physique du rôle' como nos que poderiam ser feitos indistintamente por brancos ou pretos. O respeito de que goza no meio e a firmeza das suas atividades valem-lhe uma informal posição de liderança entre os artistas cênicos negros do país".( MICHALSKI, Yan. Milton Gonçalves. In: _________. PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.)

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